Mais de 500 mil deslocados no Camboja devido a conflito com Tailândia

O conflito fronteiriço entre o Camboja e a Tailândia causou mais de 500 mil deslocados do lado cambojano nas últimas duas semanas, declarou este domingo o Ministério do Interior.

Lusa /
Foto: Athit Perawongmetha - Reuters

"Mais de meio milhão de cambojanos, incluindo mulheres e crianças, enfrentam grandes dificuldades devido às deslocações forçadas das suas casas e escolas para escapar aos disparos de artilharia, foguetes e bombardeamentos aéreos levados a cabo por F-16 tailandeses", notou o ministério em comunicado, apontando para a retirada de um total de 518.611 pessoas.

Do lado tailandês, o número de deslocados é de cerca de 400 mil, de acordo com Banguecoque.

O conflito entre Camboja e Tailândia decorre de uma antiga disputa entre os dois países pela soberania de territórios próximos da fronteira comum, que se estende por aproximadamente 820 quilómetros e foi mapeada por França em 1907, quando o Camboja fazia parte da Indochina francesa.

Uma nova vaga de ataques cruzados eclodiu em 07 de dezembro na fronteira, naquele que é o pior episódio de violência desde o conflito de julho, que durou cinco dias e causou 50 mortos.

Os confrontos mais recentes já provocaram quase 60 mortos.

Os exércitos dos dois países lutam pelo controlo de áreas onde se situam edifícios religiosos do século XI, altura em que a região era controlada pelo Império Khmer (802-1431).

Um dos precedentes mais significativos da disputa de soberania é o templo de Preah Vihear, um grande complexo construído no topo de uma falésia de 525 metros que funciona como fronteira natural entre os dois países.

O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) de Haia sentenciou em 1962 que o templo, declarado Património Mundial da UNESCO em 2008, se encontra em terreno cambojano.

Banguecoque acatou então a decisão, mas manteve a reivindicação sobre o terreno adjacente, já que a única via de acesso era através de estradas provenientes da Tailândia.

A disputa remonta ao acordo de março de 1907 entre o então reino do Sião, atual Tailândia, e a França, que ocupava o território que agora é o Camboja.

O acordo destinava-se a trocar o controlo de algumas regiões e estabelecer uma linha de fronteira entre as duas nações.

Contudo, segundo as autoridades tailandesas, a demarcação real da fronteira desviou-se do texto do tratado, incluindo o território em redor do templo de Preah Vihear.

A discórdia arrastou-se até à atualidade e tem provocado vários confrontos, exacerbados em momentos de debilidade política e económica nos dois países.

As fricções sobre as reivindicações territoriais já tinham causado conflitos em 2008 e em 2011, que provocaram mais de três dezenas de mortos.

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